Wednesday, January 7, 2009

Mal, tudo mal

Tenho um colega que tem um filho um pouco mais pequeno que o M. Este semestre ele tinha que dar duas aulas, e supostamente também tinha escrever um capiítulo de um livro comigo. Como ele é o primeiro autor eu não pensei muito nisso. E eis senão quando as editoras do livro escrevem-me. Querem que lhes diga como é que correm as coisas. Percebi logo tudo: o meu colega não lhes respondeu aos emails (e pensando bem tb não respondeu aos que eu lhe mandei durante o periodo) e elas resolveram escrever-me a mim. E eu respondi, que está tudo bem, as coisas um pouco atrasadas mas não há de ser nada. Deixei passar a época das festas e telefonei ao meu colega. E ele perguntou-me como é que eu faço, que ele há meses que não tem tempo para sequer responder aos emails, que não consegue imaginar como é que eu faço estando sózinha. Esta é uma pergunta que oiço frequentemente. A resposta é sempre a mesma: mal, faço tudo mal. Devia fazer mais e melhor de tudo. Devia trabalhar mais, ir a mais seminários, convidar mais colegas para almoços e cafés (o chamado networking), aceitar alguns convites de colegas para festas e bebidas, devia passar mais tempo com o meu filho, ter mais paciência, devia relaxar, sair à noite (contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que o fiz este ano, contando com jantar fora), devia ir à ginástica (coisa que não faço há anos) e sobretudo devia dormir mais, mas não posso. Não quero dizer com isto que seja fácil fazer tudo mal, pelo menos uma vez por semana trepo paredes, desespero a pensar que vou ser despedida, ou que o meu filho vai crescer infeliz porque eu fui péssima mãe. Mas quando consigo controlar a minha ansiedade, faço tudo mal, ou menos bem, e a vida segue.
Para dizer a verdade, durante algum tempo preocupou-me esta minha resposta e respectiva realidade. Mas um dia ouvi uma palestra sobre as razões pelas quais as mulheres em lugares de responsabilidade deixam de trabalhar para se "dedicarem" à familia. As razões são muitas e não são aquilo que me interessa aqui. O interessante foi a explicação que a investigadora deu para as estratégias utilizadas por aquelas que permanecem: deixam de tentar atingir a perfeição e aceitam que algumas (muitas) coisas não vão ser tudo o que poderiam ser.
E agora vou dormir porque amanhã é outro dia e eu tenho tanto trabalho...

1 comment:

Pi said...

És extraordinária! Eu não tenho nem metade da responsabilidade, e eu sim, faço tudo mal, devia fazer muito mais etc. De qualquer forma, há que fugir à pressão que nos colocamos a nós proprios!