Saturday, July 25, 2015

Salvas-me?

Estamos em Melides e está um vendaval na praia. A maré está baixa mas as ondas estão desorganizadas rebentando de forma caótica e deixando rastos de espuma branca por todos os lados. O M quer ir à água mas eu não. Ele vai até lá a baixo e volta uns minutos depois.
- amã, vens comigo? As ondas estão muito grandes 
- não amor, a mãe não quer ir à água. 
- e salvas-me?
- claro que sim!! Sempre!!

E ele lá foi, e eu fiquei de olho de lince preparada para saltar para dentro de água. E por momentos fiquei também pesada de responsabilidade, a minha responsabilidade para uma vida inteira. Passámos a fase das fraldas e dos biberões, a fase de traduzir o que ele diz, pensa e sente, de saber o que gosta e não gosta, e vêm sempre novos desafios. Sabia que ia ser desta maneira, mas ainda assim penso não há nada que nos prepare para isto. 

Prioridades

São 5.30 da matina. Temos que ir para o aeroporto e ele está com tanto sono que anda aos esses pela casa. De repente olha para mim e diz:
- o que é que comemos?
- quando? ontem? Respondo eu, ingénua, a pensar no arroz de pato seguido de hambúrguer que ele comeu ontem à noite.
- não, agora!

O M nunca perde noção das suas prioridades.

Friday, July 10, 2015

SNS

Sou uma enorme fa do sistema nacional de saude. Sei que e' desporto queixarmo-nos de tudo o que e' portugues mas tendo passado por outros sistemas de saude publicos acho que o nosso esta muito acima da media. Tenho ido com o M ao Egas por causa das pneumonias dele. A medica, foi fabulosa conosco, consultas a horas, tudo bem explicado, etc. Chegou-se a conclusao que o problema dele nao deve ser alergico (ou pelo menos nao so) mas que tera uma componente infecciosa. Falou-se de ouvidos e ela fez uma marcacao para irmos ao otorrino.

A consulta foi marcada em pouquissimo tempo e esperamos cerca de uma hora, o que e' chato mas nao fica fora da normalidade medica. Entramos no consultorio e o medico, quase sem olhar para nos, mandou o M sentar-se num banco e a mim numa cadeira. Depois, e quase sem ouvir o que eu tinha para lhe dizer, foi observar o M. Disse que ele tinha uma amigdala infectada e que isso nao so dava mau halito como tambem era um foco de infeccao, e chamou-me para eu ver. Olhou para os ouvidos do crio, disse que ele estava com uma otite serosa, que as otites serosas nao tratadas passam a ser cronicas, e afirmou categoricamente que, "este miudo tem que ser operado as amigdalas, adenoides e ouvidos". Levantou-se, sentou-se ao computador e nao falou comigo, nem olhou sequer para mim. Depois de ter teclado umas coisas disse-me que o M tinha que fazer uns testes de audicao e umas analises de sangue. Eu expliquei que ele ja tinha feito aquelas analises e que as tinha feito no proprio Egas, mas ele nao quis saber. Deu-me a receita da medicacao, bufou quando lhe disse que o M nao podia tomar montelucaste, imprimiu outra, disse "pouca piscina e muita praia" e mandou-nos a nossa vida.

Se o M for operado eu quero que seja no publico sou daquelas pessoas da velha guarda que acha que os hospitais publicos sao melhores. Mas e' completamente inadmissivel que o medico nao tenha perdido 5 minutos do seu valioso tempo a explicar-me o porque do seu diagnostico, ou  a ouvir o que eu tinha para lhe explicar. Ate porque o M nos dois dias anteriores a consulta tinha passado umas horas na piscina e isso poderia explicar a otite. Obviamente, marquei uma consulta no privado com um otorrino espectacular que me explicou tudo e que me disse que na sua opiniao nao era necessario operar nada (talvez as amigdalas mas mais pela questao do mau halito).

Como os testes de audicao so estao marcados para fins de Outubro (e tem que ser feitos in-house embora haja uns meses de lista de espera) e a proxima consulta com o otorrino do Egas em Novembro vou por este assunto de parte por agora. 

Vírus

Estamos no carro e eu digo, "estou farta de te..." ele, no banco detrás, abre-se num enorme sorriso e diz, "Pois, o R é um vírus. Tens que estar sempre com ele." Eu sou desato-me a rir e pergunto, "O R?? Como um vírus? Mas o que é que tu queres dizer com isso?" E ele ri-se e, com o seu ar mais maroto,  explica que, "é como um vírus porque, sabes, quando tens um vírus ele esta sempre lá e tu tens que estar sempre a tomar conta dele, com ele." A conversa é tão boa (e elucidativa) que eu continuo a rir-me e pergunto-lhe se aquilo é o que ele acha. E ele explica que ele até ja me tinha dito isto antes, "não te lembras?!?". "Não", respondo eu, "o que é que tu me disseste?" E ele diz que já me tinha dito que eu ia, tinha que, ficar farta do R porque ele está sempre comigo. Mais risos, agora de ambos. "Mas quem é que vai ficar farto" pergunto eu, "eu ou tu??" Ele sorri e diz, "nós". "Eu?? Eu não eu gosto imenso de estar com o R" digo-lhe eu. "Mas tu acabas de dizer que estas farta do R!" responde ele. E eu explico que não o que eu disse foi, "estou farta de..."

Em suma, os Freudian slips são momentos deveras interessantes e importantes (o sorriso do M ao "descobrir" que eu estou farta do R foi absolutamente impagável); O R é um vírus; o M está com ciúmes.

Exageros

Ouvido perto da piscina onde o M tentava furiosamente partir a cabeca.

"A minha mae e' uma exagerada. Alias, e' raro a minha mae nao exagerar!"