Dia 25 de Abril faz-se o regresso a Portugal. Depois de 15 longos anos. A partida não foi fácil. Nada era fácil nessa altura. Mas a verdade é que a partida foi boa. Foi boa e necessária. Agora pensa-se no regresso ainda que só por uns meses. E com a morte do Mike fico a pensar em como vai ser estar de volta.
Durante os últimos 15 anos tenho vivido uma vida dupla, ou tripla. Por cada país que passo deixo amigos para a vida e trago memórias. Essas memórias partilho-as com eles e com elas. Mas já lá vão muitos países e sei que me falta aquele minimo denominador comum de quem viveu a vida toda no mesmo país, na mesma cidade, no mesmo bairro. E talvez por isso seja boa a manter amizades. Escrevo, telefono, penso nos meus amigos. Com a chegada do Mathias passei a ter menos tempo, mas continuo a tentar.
E é assim que durante estes últimos 15 anos tenho vivido uma vida dupla ou tripla, ou quadrupla. Uma vida por cada país onde vivi, por cada conjunto de amigos e experiencias que deixei para trás, ou melhor dito, que trago comigo. Estas vidas às vezes tocam-se, às vezes há intersecções, mas de forma geral mantêm-se em planos diferentes. E agora que o Mike morreu e que penso em voltar a Portugal, pergunto-me se na verdade não terá sido uma vida a zeros. Porque, como é que vou para um sitio onde ninguém conheçe a minha amizade com o Mike? Onde quase ninguém sabe o que faço? Onde ainda tenho 21 anos?
Vivi sempre com a ilusão de Portugal como a minha 'base', e é sem dúvida em Portugal onde tenho mais amigos, amigos daqueles que enchem o peito. Mas foram 15 anos cá fora, e mesmo partilhando há muito que se perde, muito que nao se partilha ou nao se pode partilhar. E de repente dou por mim a tentar apegar-me ao que tenho aqui, para não perder aquilo que construí, para não me perder a mim. Estes 15 anos ensinaram-me que por cada sitio por onde passo é mais difícil (mas nao impossivel) fazer amigos, começar de novo. E se ao voltar descubro que Portugal não é diferente? Onde fica a minha ilusão de raízes?
Melancolia. Talvez não seja mais que melancolia. Talvez seja apenas a tristeza enorme de ter perdido um grande amigo. Mas neste momento não sei se estou menos presa ao que tenho cá ou ao que me espera ai.
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