O ciclo preparatório é complicado. São dois anos chatos: os miúdos já não são crianças pequenas mas por outro lado ainda o são; e é também o primeiro embate real com a implacável e sempre presente pressão para ser igual aos outros num padrão de normalidade inatingível, e das dificuldades de ser diferente. Já tinha visto isto com meu sobrinho e agora vejo no M.
No outro dia ele explicou-me que não tinha posto desodorizante depois do treino. A razão: não queria que gozassem com o desodorizante dele. "Gozar com o desodorizante?" perguntei eu, "mas mandei-te o azul que é normal". Ele sabe que sim, que é o azul e que é normal mas no 5o ano tudo pode deixar de ser normalmente apenas num segundo. No 5o ano ele é um alvo andante para os miúdos mais velhos. Estar no quinto ano significa andar num limbo em que tudo é passível de ser problemático. Mas não acaba aqui. "Okay," diz ele, "mas também não pus desodorizante porque não queria que eles me chamassem gordo". "Mas alguém te chama gordo?" pergunto eu. "Não. Mas isso é porque quando estou vestido não se nota".
E pronto. Para os mais desatentos aqui fica a nota. O M está no 5o ano e tem uns anos a penar pela frente.
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