Thursday, March 12, 2015
Erros
Cometi um erro, um grande erro. Erros cometemos todos, eu sei, mas não deixa de ser um erro e é meu. O M estava a fazer perguntas, a perguntar como só ele sabe fazer, num ritmo que não deixa silêncios nem tempo para pensar. Mas isto não é desculpa. Perguntou, insistiu. Não queria nada, as perguntas eram sobre outra coisa, queria atenção, companhia, jogar. E eu respondi que tinha tido más notícias, que me deixasse estar um pouco. Mas deixar estar é algo que as crianças, a minha criança, fazem mal ou nunca. Porque para elas o tempo é diferente e um pouco é mesmo um pouco, uns segundos apenas. Há muitos anos tive esta conversa com ele: as crianças zangam-se em pouco tempo e em pouco tempo também recuperam; os adultos, ou esta adulta, demora tempo a zangar-se mas também demora tempo a voltar à normalidade. Mas é uma lição rapidamente esquecida. Ele insistia, vamos jogar. E eu disse-lhe que a confirmar-se, a má notícia significa que vamos morar para Londres no Verão. Foi um erro, o meu papel não é partilhar com ele o peso das decisões, é aliviá-lo. Foram dois segundos mas agora ele acorda e adormece a falar de Londres, os pós e os contras. Acorda a horas, antes da hora, está nervoso, ansioso mas não sei se o sabe. Não há volta atrás porque ele já não é bébé e dito não por ser não-dito. Falhei, e sem ser a primeira vez ou sem ser a última, sinto-me sem saída.
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