O M é um miúdo esperto e altamente racional e lógico. Quando há algum problema que o interesse ele não larga o assunto até perceber e chegar ao fim da questão. Uma caracteristica optima e que, estou certa, lhe vai trazer muitos frutos na vida, mas que as vezes complica o meu papel de mae. Exemplos:
Antes do Natal o tema que o preocupava era a existencia (ou nao) do Pai Natal. Um dia fui busca-lo a escola e ele entrou no carro manifestamente de mau humor. Perguntei-lhe como tinha sido o dia dele (uma tradicao) e ele respondeu que mau. Mau porque? Porque nao tinha ido para o recreio. E isso por? Por causa daquele homem. Homem, mas que homem? O que eu quero saber e se o Pai Natal existe!!! exclama ele do banco de tras. Eu, completamente impreparada para esta questao, tentei dar-lhe a volta: o que é que tu achas? em que é que tu acreditas? porque é que me estas a perguntar isso? O mais importante é se tu acreditas ou nao. Mas ele estava inamovivel. Os meninos da escola dizem que o Pai Natal sao os pais, e eu quero saber a VERDADE! O Pai Natal es tu ou nao?? Quanto mais eu tentava nao responder, mais ele insistia, EU QUERO SABER A VERDADE!! Es tu ou nao es tu??!!?? E naqueles 5 minutos decidi que nao lhe posso dizer que nao se mente, e mentir-lhe quando me pergunta frontalmente uma questao. E disse-lhe, sim, sou eu. E ele? Ele desata a chorar no banco traseiro. Fiquei surpreendida e, sem saber o que fazer, comecei a recuar na minha verdade, que sim, sou eu, mas claro o pai natal tambem. E ele, la atras, a tentar arranjar uma forma qualquer de poder acreditar nisto nesta logica que nao tem logica. Ah, ja percebi, tu tens o numero do pai natal escondido no teu telefone! Nao, nao, nao é bem isso... Ah, ja sei, tu é que dás o dinheiro ao Pai Natal! Ah, mais ou menos... No fim, o que o convenceu foi o argumento de que se o Pai Natal existe ou nao nao e o mais importante, o importante é que quem acredita nele recebe mais uma prenda. E o topico foi banido (por ele) das nossas conversas porque, afinal de contas, acreditar naquilo que nao tem logica ja e suficientemente complicado sem ter que se levantar ainda mais ondas.
Mas o mes passado a questao que preocupava o M ja nao era o Pai Natal, era a morte. Leu o livro do M. Sousa Tavares, "O planeta branco", em que, se bem percebi, ha um planeta habitado por mortos e chegou-me a casa preocupado. O tema da morte ja tinha sido um tema que o preocupou em 2010 aquando da morte do Mike, mas desta vez a preocupacao nao era tanto com como é que se morre, ou porque é que se morre, mas sim com, o que é que acontece depois da morte? Sendo completamente ateia nao tinha nenhuma esperança para lhe dar. Expliquei-lhe que diferentes religioes tinha diferentes 'belief systems,' que havia quem acreditasse no ceu, na reincarnacao, na ressureccao, mas que ninguem sabia. Ele ficou muito preocupado, e eu preocupada com ele. Chorava quando o ia buscar a escola, a noite, comecou a dormir mal, e continuou com as perguntas. Como é que nenhum outro dos meninos da sala dele tinha feito esta descoberta sobre a finalidade e incerteza da morte? Como é que os adultos faziam para nao se preocupar? Como é que ele podia fazer para nao estar preocupado? Porque é que nao lhe menti e nao lhe disse que a reincarnacao era um facto? Afinal ja nao queria fazer 7 anos porque assim tinha menos tempo para viver. O que ele queria, dizia-me ele, era ser pessoa e viver (para sempre se possivel, e ja agora eu, amã, podia viver para sempre também). Eu tentei de tudo para o acalmar, e disse-lhe que nunca deixaria que lhe acontecesse nada. Mas ele, ser logico, pragmatico e racional, disse-me que isso era bom, mas que na verdade, eu ja nao sou assim tao nova... Depois quis falar com um medico sobre o assunto. Quis falar com o V., e eu liguei-lhe. Perguntou-lhe sobre a morte e sobre a nossa separacao. Ficou mais calmo e aos poucos e poucos o tema deixou de estar tao presente na mente dele (embora seja recorrente ca em casa).
Ainda em Janeiro e aproximando-se os anos do M contei-lhe como tinha sido o dia antes de ele nascer e o dia em que nasceu. Estava a contar a minha história quando se me ocorreu que as pergunta iam começar em breve. E, sure enough, começaram: Entao e quando é que eu e o Far decidimos que ele ia ser meu pai, foi quando eu nasci? Nao, o Far sempre foi teu pai porque era meu namorado. Ah, entao viviam juntos? Sim. Viviam juntos??? Nao. Mas eramos namorados. Entao quando é que foi? Foi um bocadinho antes de eu nascer para decidirem a cor dos olhos e dos cabelos e assim? Nao, tu es meu filho e do Far porque tens um bocadinho meu e eu bocadinho dele, e é assim que se decide a cor dos olhos... Um bocadinho de onde? Um bocadinho, umas celulas. Umas células que vem de onde? E eu, que ainda nao estou pronta para estas coisas, rematei com um, "Bom, M com tantas perguntas nao consigo acabar a minha história, fazes as perguntas todas no fim". E foi assim que fugi a conversa das cegonhas. Mas sei que não vou chegar aos 8.
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